segunda-feira, 27 de junho de 2022

Suprema Corte dos EUA declara abolido o aborto. Isso rachará o país?

Militantes pela vida enfrentam partidarios do aborto diante da Suprema Corte
Militantes pela vida enfrentam partidários do aborto diante da Suprema Corte antes do anúncio
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







A Suprema Corte dos Estados Unidos revogou a delcaração Roe vs Wade que há 50 anos legalizou o aborto, noticiou “The New York Times”, como aliás toda a imprensa internacional espavorida. 

Todas as leis ou normas a todo nível que se apoiavam na delcaração Roe vs Wade ficaram sem fundamento na legislação.

O vazamento jogou fogo no crescente conflito cultural e moral que devora o país e pode pô-lo ao borde de um incêndio nacional com incalculáveis repercussões mundiais.

A decisão Roe vs Wade instituiu a massacre dos inocentes no maior e mais liberal país do mundo. E foi perverso pretexto ou inspiração para leis de aborto no mundo todo.

Invalidada aquela decisão, a disputa pelo aborto ficará com os legislativos estaduais, onde a oposição é intrincada e até furiosa há anos.

Assim sendo, a maioria das leis de aborto parece felizmente destinada à ilegalização em pelo menos metade dos estados americanos.

De fato, em numerosos estados as formalidades legais aprovadas tornaram impraticável o crime de aborto sendo frequente a desaparição das clínicas da morte.

Prevaleceu a maioria conservadora de 6-3 na Corte, mas a vida política nacional e estadual virará campo para uma das questões mais controversas da vida pública americana. 

Em breve, há um risco é de aprofundar a divisão do país já polarizada em dois blocos mutuamente hostis, em que um lado despreza o valor insondável da vida e o outro o defende.

Abortistas e anti-abortistas em disputa diante da Suprema Corte
Abortistas e anti-abortistas em disputa diante da Suprema Corte

De início, rapidamente o presidente abortista Joe Biden anunciou um projeto de lei e pediu votos para a eleição de meio termo para obter deputados e senadores que o aprovem. Algo muito discutível pois os legisladores preferem conservar sua cadeira e o aborto é um tema pelo qual podem perde-lha.

Como em outros países, os legisladores não querem perder suas cadeiras e despejam as grandes decisões sobre os juízes. O resultado é uma politicagem feroz nos tribunais. Agora não poderão.

Acresce que nas eleições, quando está em jogo uma causa moral, diminuem as abstenções e aumentam os votos conservadores. O gesto do Biden teve muita repercussão na mídia mas pode ter sido tolo.

A Suprema Corte exibia um rosto ativista libertário quando esgrimiu tortos sofismas para aprovar o aborto em 1973. Porém, o rosto de hoje é do oposto conservador.

Em boa medida a Corte não pode ir contra a opinião pública que está dividida em duas partes irredutíveis. O que fazer para as esquerdas?

Para “The Economist” procurar uma saída conciliadora ou exercer a moderação será tido como intolerável por alguma das partes em luta e o Tribunal poderá perder sua capacidade de resolver disputas pacificamente.

Abolindo como fizeram, o crime do aborto os juízes enfrentarão uma pressão política esquerdista crescente. 

Todos os candidatos presidenciais democratas, em geral favoráveis ao aborto, serão interpelados para pressionar a Suprema Corte. Pressão oposta virá do lado republicano contrário e o Tribunal que deve garantir o equilíbrio constitucional terá seu futuro hipotecado a uma tempestade ideológica.

Caindo a resolução Roe vs Wade as divisões dos EUA em estados conservadores e democratas se aprofundarão porque o sistema federal dá liberdade para cada um redigir suas próprias leis.

Leis estaduais em extremo divergentes poderão opor a Califórnia ao Texas por exemplo e as minorias nesses estados se sentiriam atropeladas.

Estados vizinhos divergentes em pontos hipersensíveis dificilmente poderiam coexistir e se unir num esforço nacional quando as circunstâncias o requererem.

E a coluna material que sustenta o mundo ocidental poderia se rachar em inúmeras partes pondo em dúvida a coesão do futuro do mundo atual.

Isso é o custo de uma decisão imoral que levou a vida de milhões de crianças em gestação.


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