Tintin vai para a Marcha pela família e o ancião lembra que quando jovem ia na rua pelos ideais da esquerda |
Sobretudo nas profundidades do catolicismo francês que, adormecido havia décadas, entrou de repente em inusual atividade.
O demógrafo Hervé Le Bras, diretor dos estudos no Instituto Nacional de Estudos Demográficos INED), foi consultado pelo semanário esquerdista Rue 89 (28/04/13).
Seu veredicto foi lapidar: “Com o ‘casamento para todos’, o PS cometeu um erro eleitoral enorme... O PS acaba de perder aquilo que foi a base de seu sucesso nas últimas eleições”.
O que vale um erro para uma mente revolucionária? Após Napoleão ter assassinado o duque d’Enghien, príncipe da casa real francesa, seu ministro da Polícia, Joseph Fouché, fez um cínico comentário em 21 de março de 1804: “Pior que um crime, foi um erro”.
De fato, esse assassinato selou a ruptura de Napoleão com as monarquias europeias e tornou inevitável sua futura queda.
Le Bras, juntamente com o historiador estruturalista Emmanuel Todd, publicaram um livro analisando o erro cometido, ‘pior que um crime’: O mistério francês, ed. Seuil, Paris, 2013.
A reação católica veio para ficar no panorama público francês |
O PS angariara o apoio dos bispos “progressistas” franceses. Esses prelados estavam à testa desse “catolicismo narcotizado” e viam como um “sinal dos tempos” da era pós-conciliar o voto no socialismo ou no comunismo, e mesmo no anarco-ambientalismo. O único que viam com maus olhos era o fato de alguém do rebanho pender para a direita.
Porém, sem muita explicação humana, esse “catolicismo adormecido” nos últimos anos, saiu do letargo à maneira da lenda do país de Ys – uma espécie de mítica Atlântida engolida pelo mar nas costas da Bretanha, da qual algum dia vai ressurgir uma “catedral submersa” mais esplendorosa do que nunca. Enquanto isso, a militância socialista envelhecia, diminuía e perdia entusiasmo.
Quando o PS lançou seu anunciado projeto de “casamento” homossexual, aconteceu o que “não podia talvez prever”: o “catolicismo narcotizado” surgiu das águas da História com uma militância inimaginável.
“Nas ruas – registra Rue 89 – as pessoas absolutamente não manifestavam por causas econômicas, mas em prol dos valores conservadores. E ainda que nem todos fossem católicos, eles não eram tão ‘zumbis’ quanto se acreditava. Sua mola propulsora era religiosa”.
Para o demógrafo Le Bras, o mapa geográfico dos protestos repete hoje o mapa dos deputados que votaram pela vida do rei Luis XVI guilhotinado em 1793, e vice-versa.
“A opinião pública francesa – conclui Le Bras – é de direita. Ela está apegada à propriedade, à manutenção das hierarquias. E ela segue se direitizando. Constatar isto pode parecer bizarro no momento que a esquerda detém todos os postos de governo”.
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