quinta-feira, 20 de junho de 2013

Mudanças históricas estão acontecendo na França

Tintin vai para a Marcha pela família e o ancião lembra que
quando jovem ia na rua pelos ideais da esquerda
O problema na França é muito sério. Nas profundezas da opinião pública francesa estão acontecendo movimentos telúricos, típicos de mudança de época.

Sobretudo nas profundidades do catolicismo francês que, adormecido havia décadas, entrou de repente em inusual atividade.

O demógrafo Hervé Le Bras, diretor dos estudos no Instituto Nacional de Estudos Demográficos INED), foi consultado pelo semanário esquerdista Rue 89 (28/04/13).

Seu veredicto foi lapidar: “Com o ‘casamento para todos’, o PS cometeu um erro eleitoral enorme... O PS acaba de perder aquilo que foi a base de seu sucesso nas últimas eleições”.


O que vale um erro para uma mente revolucionária? Após Napoleão ter assassinado o duque d’Enghien, príncipe da casa real francesa, seu ministro da Polícia, Joseph Fouché, fez um cínico comentário em 21 de março de 1804: “Pior que um crime, foi um erro”.

De fato, esse assassinato selou a ruptura de Napoleão com as monarquias europeias e tornou inevitável sua futura queda.

Le Bras, juntamente com o historiador estruturalista Emmanuel Todd, publicaram um livro analisando o erro cometido, ‘pior que um crime’: O mistério francês, ed. Seuil, Paris, 2013.

A reação católica veio para ficar no panorama público francês
Para esses eruditos, nas últimas décadas a maioria dos franceses tinha aderido a um “catolicismo zumbi”. A prática religiosa caiu vertiginosamente, sobretudo na juventude, a revolução da imoralidade vinha sendo aceita desde Maio de 68.

O PS angariara o apoio dos bispos “progressistas” franceses. Esses prelados estavam à testa desse “catolicismo narcotizado” e viam como um “sinal dos tempos” da era pós-conciliar o voto no socialismo ou no comunismo, e mesmo no anarco-ambientalismo. O único que viam com maus olhos era o fato de alguém do rebanho pender para a direita.

Porém, sem muita explicação humana, esse “catolicismo adormecido” nos últimos anos, saiu do letargo à maneira da lenda do país de Ys – uma espécie de mítica Atlântida engolida pelo mar nas costas da Bretanha, da qual algum dia vai ressurgir uma “catedral submersa” mais esplendorosa do que nunca. Enquanto isso, a militância socialista envelhecia, diminuía e perdia entusiasmo.

Quando o PS lançou seu anunciado projeto de “casamento” homossexual, aconteceu o que “não podia talvez prever”: o “catolicismo narcotizado” surgiu das águas da História com uma militância inimaginável.

“Nas ruas – registra Rue 89 – as pessoas absolutamente não manifestavam por causas econômicas, mas em prol dos valores conservadores. E ainda que nem todos fossem católicos, eles não eram tão ‘zumbis’ quanto se acreditava. Sua mola propulsora era religiosa”.

Para o demógrafo Le Bras, o mapa geográfico dos protestos repete hoje o mapa dos deputados que votaram pela vida do rei Luis XVI guilhotinado em 1793, e vice-versa.

“A opinião pública francesa – conclui Le Bras – é de direita. Ela está apegada à propriedade, à manutenção das hierarquias. E ela segue se direitizando. Constatar isto pode parecer bizarro no momento que a esquerda detém todos os postos de governo”.


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