terça-feira, 20 de abril de 2010

Perversões sexuais não são direitos humanos, diz Cardeal

Cardeal Janis Pujats, Arcebispo de Riga
O Cardeal Pujats, Arcebispo de Riga, capital da Letônia, esclarece o problema do homossexualismo, indica meios para lutar contra essa prática pecaminosa e expõe as razões pelas quais ele a combate, pois não se trata de uma orientação sexual, mas de perversão sexual

Em 1984, o Cardeal Janis Pujats, quando ainda simples sacerdote, foi declarado pela KGB persona non grata e transferido para uma paróquia do interior de sua pátria, a Letônia, então dominada pelo regime comunista. Basta este fato para nos revelar o quanto ele é sumamente persona grata para os católicos.

Nascido em Navireni, no ano de 1930, foi ordenado sacerdote em 1951. Lecionou História da Arte e Liturgia no seminário da capital da Letônia. De 1979 a 1984 foi vigário-geral da arquidiocese de Riga. Em 1988 recebeu o título de prelado honorário do Papa, tendo sido nomeado arcebispo em 1991. Sete anos depois foi designado por João Paulo II Cardeal de Riga –– primeiramente “in pectore”, e três anos mais tarde tal nomeação foi dada a público.

Sua Eminência o Cardeal Pujats é um baluarte na luta contra a difusão do homossexualismo, atuando publicamente contra as chamadas “paradas homossexuais”, e apelando ao governo letão para que proíba tais manifestações. O cardeal concedeu entrevista a nosso colaborador Sr. Valdis Grinsteins, também de origem letã, por ocasião de sua recente viagem à Letônia.

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Catolicismo — O que favorece a expansão do homossexualismo?

Cardeal Pujats — De um lado, o homossexualismo é favorecido pelo enorme culto do sexo, que se propaga através dos meios modernos de comunicação de massa, e também pelo fato de que esse vício tem sido até oficialmente promovido em alguns países, em nome dos mal-entendidos “direitos do homem”. De outro lado, o caminho para o homossexualismo é aberto pela falta de fé e pelo enpedernimento moral de grande parte da sociedade.


Catolicismo — Por que tantas pessoas são indiferentes diante da expansão do homossexualismo?

Cardeal Pujats — Sobretudo são indiferentes a esse problema os que não crêem em Deus, como também os cristãos que não consideram a sua fé como algo importante.

Por que procedem assim? Exemplico com a situação em meu país. No governo, todo um grupo de pessoas depende financeira ou administrativamente de um só indivíduo. Sentindo-se elas pressionadas, ou ficam do lado do superior ou — no melhor dos casos — calam-se e manifestam indiferença, embora no fundo da alma não concordem com esse indivíduo. No aparelho estatal, mesmo um pequeno grupo de funcionários homossexuais pode facilmente obter o objetivo desejado. Essa questão apresenta-se de modo pior no âmbito judiciário. O regime de opressão da União Soviética era mantido pela recíproca dependência dos funcionários.

Entretanto, aos que crêem em Deus de todo o coração, mas não exercem uma real influência na sociedade, só resta organizar-se e corajosamente dar testemunho de Cristo pelo exemplo de suas vidas, baseadas no cumprimento dos mandamentos divinos. Os diversos sistemas mudam e caem, mas “a verdade divina permanece pelos séculos”, como diz o Livro dos Salmos (Sl. 116,2).



Catolicismo — Muitos autores conceituados, apoiando-se nas Sagradas Escrituras e no Magistério eclesiástico, em seus escritos sobre o homossexualismo condenam categoricamente essa prática pecaminosa. São eles entretanto raramente citados, e como conseqüência muitos católicos assumem posição de tolerância em relação ao problema. De que modo se pode proteger os fiéis em face desse perigo?

Cardeal Pujats — O clero tem a obrigação de, citando a Bíblia, lembrar aos fiéis que a Sagrada Escritura condena toda sorte de impurezas. Apoiando-se na Bíblia, podem-se tirar conclusões preliminares para que os fiéis se orientem melhor sobre o que pode e o que não pode ser tolerado.

Devemos pregar que o Direito divino e a Lei natural são estáveis e imutáveis. O que muda é a posição das pessoas e dos parlamentos e o direito que eles criam. Por isso, nenhum legislativo pode eliminar o Decálogo, porque ele se apóia no Direito natural, garantindo a existência da sociedade. Devemos falar que não é permitido extirpar o limite entre o bem e o mal, entre o que é permitido e o que é proibido, claramente estabelecido pela Lei divina. Finalmente, devemos asseverar que o homossexualismo é um vício que se contrai, podendo ser comparado com a dependência de drogas, o alcoolismo, o fumo, etc., razão pela qual os que o praticam não podem pretender serem tratados como uma “minoria”. Devemos dizer que a perversão sexual não pode ser tolerada na esfera pública, para que tal desordem não se transforme em um mau exemplo para toda a sociedade. Se alguém tem inclinações para o vício, este deve ser disciplinado e tratado. Não se pode legalizá-lo ou protegê-lo, invocando a noção erroneamente aplicada de direitos humanos. O homossexualismo não é uma orientação sexual, mas uma perversão sexual.



Catolicismo — Cada vez que a Igreja protesta contra leis que favorecem o homossexualismo, surge a objeção de que ela se imiscui em política. O que V. Emcia. diria sobre tal acusação?

Cardeal Pujats — A Igreja tem o direito de protestar, se o Estado impõe o homossexualismo. A Religião e a moral constituem uma específica esfera de sua competência. Condenando o homossexualismo, a Igreja não ultrapassa pois o limite de sua competência. Ao contrário, são os governos e parlamentos que extrapolam suas competências, tentando alterar os mandamentos divinos e o conceito de virtude e de vício.

Além disso, os acordos realizados pela Santa Sé com os governos de muitos países garantem à Igreja a liberdade de expressão. E também concedem aos fiéis “a possibilidade de livre criação e divulgação de iniciativas sociais, culturais e educacionais, que têm origem nos princípios da fé cristã” (Concordata da Santa Sé com a Letônia, item 9).

O princípio da separação entre o Estado e a Igreja indica unicamente as competências de ambas as partes. Em alguns países, os membros da Igreja católica constituem a maioria dos cidadãos. Poderá o Estado existir, se tais cidadãos forem separados dele de modo artificial? Tanto os fiéis em geral como os bispos são cidadãos de seu respectivo país, com todos os direitos que disso derivam. E também desfrutam o direito de protestar contra leis imorais.



Catolicismo — Como reação contra pressões do lobby homossexual do exterior, na Letônia foi votada uma lei estabelecendo que o casamento é a união exclusiva entre um homem e uma mulher. De que modo os letões protestam contra a pressão da União Européia a favor da propagação do homossexualismo?

Cardeal Pujats — Diante da crescente pressão da propaganda homossexual, o parlamento da Letônia estatuiu em 2005 uma emenda à lei, que estabelece: o Estado “protege o casamento ¬— união entre um homem e uma mulher”, excluindo assim o reconhecimento legal da coabitação homossexual. Um fator importante na luta contra essa perversão sexual na Letônia é a voz comum de todos nessas questões morais. Justamente por isso, no dia 13 de fevereiro de 2007 o primeiro-ministro abrogou o projeto de lei apresentado ao parlamento pelos homossexuais.

Praticamente desapareceram as iniciativas de organizar em Riga “paradas homossexuais”. Em seu lugar, os cristãos organizam no verão a Festa da Família, através de uma solene marcha pelas ruas da capital. Há também um concerto e entrega de prêmios às famílias que se destacam. Os cristãos utilizam-se também da televisão, rádio e imprensa leiga, que é simpática à Igreja.

Quando os homossexuais prepararam e apresentaram ao parlamento seu projeto, os professores de 200 escolas encaminharam ao primeiro-ministro uma carta de protesto. Durante um mês os fiéis das paróquias recolheram mais de 17.000 assinaturas pedindo que o parlamento rejeitasse os projetos de lei que favorecem os homossexuais.



Catolicismo — Nos meios de informação apareceram artigos favoráveis aos homossexuais, mas nada se escreveu sobre esta parte da sociedade que decididamente se opõe ao homossexualismo. V. Emcia. pode explicar isso?

Cardeal Pujats — A afirmação de que a maioria absoluta da sociedade se manifesta pela família normal não é nenhuma novidade. Donde também a posição da maioria não despertar o interesse da imprensa. Como o homossexualismo se liga a escândalo, é pretexto para, de tempos em tempos, aparecer no centro das atenções dos meios de informação.

Nesse assunto, é curioso o seguinte: analisando essa questão, não se procura a essência, mas a priori se anuncia que os homossexuais constituem uma “minoria” discriminada. Neste caso, a condição de “minoria”, com leis especiais, justificaria automaticamente serem recebidas em todos os ambientes pessoas que praticam algum vício, tais como o uso de drogas e o alcoolismo.

Brasão do Cardeal Pujats

Catolicismo — Há alguns meses a imprensa liberal polonesa criticou V. Emcia. pelo modo de combater o homossexualismo. Aparecem também opiniões no sentido de que é melhor silenciar, pois com o silêncio evita-se popularidade para os meios homossexuais. Como V. Emcia. julga isso?
Cardeal Pujats — Em cada país a situação é diferente. O fato é que o silêncio foi um erro nos países onde o homossexualismo já obtivera direitos. Igualmente na Letônia, a tática do silêncio não foi apropriada. O homossexualismo não teve aqui sucesso porque encontrou resistência, como já mencionei anteriormente. É claro, a Igreja condena a violência, mas não é responsável pelo que se passa nas ruas, quando os organizadores de paradas se encontram com opositores. Garantir a ordem nas ruas é competência da polícia.


Catolicismo — Nos Estados Unidos surgiu um movimento que, como resposta à expansão de doenças como a AIDS, promove a castidade, sobretudo entre os jovens. Nas universidades atuam grupos que propagam a abstenção de relações antes do casamento. Infelizmente, por diretrizes da UE, a Europa é “forçada” à promoção da imoralidade. Como lutar contra isso?
Cardeal Pujats — Para debelar as trevas, é necessário a luz. Sobretudo é preciso seguir este ideal: “Bem-aventurados os puros de coração, pois eles verão a Deus” (Mateus 5,8). É necessário viver de acordo com os ditames da fé, praticando-a pelo menos um dia. Então a luz se acende. Depois um segundo dia..., um terceiro, e assim por diante. O maior bem que se pode oferecer aos cônjuges é a guarda da castidade. Muito importante é também que na sociedade seja dominante a convicção de que as relações antes do casamento são um mal, da mesma forma como não é preciso hoje convencer ninguém de que o roubo é um ato a ser repudiado.

Deus reservou o prazer sexual aos cônjuges para que criem seus filhos e fortaleçam sua família. As pessoas que coabitam antes de se casarem são simples ladrões do prazer sexual. Aproveitam daquilo que Deus destinou exclusivamente aos cônjuges. Com isso, prejudicam a si mesmos e à sua família, pois nenhum pecado fica sem conseqüências negativas. Este pecado traz prejuízos também para a sociedade. Se alguém o comete antes do casamento, revela que depois poderá transgredir a lei do matrimônio. É preciso lutar pela pureza antes do casamento, em cada país, pois isso é do interesse da sociedade inteira.



Catolicismo — Na maioria dos casos a prática do homossexualismo tende para uma escalada cada vez maior do desregramento e de uma obsessiva procura de novas sensações, o que constitui a negação das relações existentes no casamento normal. Por que então os homossexuais desejam que suas uniões obtenham o status de casamento, uma vez que elas estão em oposição à essência do mesmo?

Cardeal Pujats — Nessa tendência para a legalização do homossexualismo, na verdade tem-se em vista exclusivamente o reconhecimento da libertinagem pela lei. Quanto às relações homossexuais, é difícil imaginar uma vida feliz onde esse pecado é praticado. Por que então os homossexuais fazem tanta questão de legalizar o pseudo-casamento? Pode-se dizer que o inferno é o lugar de um sofrimento sem limites, mas infelizmente não faltam candidatos que queiram ir para lá.

(Fonte: "Catolicismo", março de 2009)

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