segunda-feira, 18 de maio de 2020

Na mesa se decide o fracasso ou o triunfo familiar e social

Comer em família é indispensável sem invasão digital
Comer em família é indispensável sem invasão digital
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Num lar típico de advogados bem sucedidos em Buenos Aires os pais e os filhos não tomavam as refeições reunidos. Reinavam smartphones, tablets, laptops ou TV de plasma.

Os pretextos ou alegados eram muitos: horários de trabalho ou escola, atividades diversas intensas, etc. Até que a família pensou voltar a partilhar as refeições.

Não foi fácil pois os filhos nem sabiam dialogar e cada um comia o que pediu ao delivery, explicou “La Nación”.

Então experimentaram ao vivo o que ouviram de muitos psicólogos especialistas em vida social: quando a mesa familiar não é partilhada como é natural, o desenvolvimento social crianças e adultos sofre um impacto negativo.

Comer com as telas ligadas destrói a coesão da família
Comer com as telas ligadas destrói a coesão da família
O aspecto positivo da mesa não se limita à qualidade dos alimentos, mas ao mais importante que é a construção de vínculos, de modos de relacionar, de conversas onde aparece o espírito familiar o mais apreciado, saboroso e satisfatório relacionamento humano.

É o que explica Denise Beckford, psicóloga especializada em crianças e adolescentes numa perspectiva social e familiar.

O convívio na mesa é tão insubstituível que numa situação normal não há nada que o possa suspender: nem chuva, nem eventos especiais.

É o momento em que cada um partilha o que experimentou, manifesta o que leva na alma e o conversa com os demais membros da família gerando uma unidade que vai até o mais fundo da alma.

Numa casa de família (os nomes não são mencionados para respeitar a privacidade) em que as refeições familiares são hábito adquirido os filhos exibem uma educação aprofundada.

No relacionamento na mesa se decide o futuro da família e do sucesso social.
No relacionamento na mesa se decide o futuro da família e do sucesso social.
“É o momento da comunicação, de falar de emoções e projetos, ensinar bons modais”, destaca a mãe que é advogada e precisamente diretora de um centro de assessoramento de imagem.

Que imagem passará um advogado, profissional ou juiz que na hora de um almoço de trabalho não sabe pegar no garfo?

O pai, especialista em direito impositivo, explica o valor de seus filhos verem uma mesa bem arrumada, bem servida, onde além de todos os elementos básicos (toalhas, guardanapos, conjuntos de pratos, copos e talheres), acrescentam flores naturais ou outro ornamento.

Quem se acostumou a uma mesa caótica não apresentará orçamentos ou relatórios ordenados.

Quando a gente se olha e conversa aprende a ser chamado pelo nome, escutado, reconhecido por outro, desenvolve a imagem de si próprio e ganha estrutura psicológica para assumir desafios e se desenvolver na sociedade”, explica Leticia Arlenghi, especializada em terapia Gestalt nos EUA, Argentina e Chile.

O contato das almas não pode ser alterado pelo equipamento digital tocando a toda hora
O contato das almas não pode ser alterado pelo equipamento digital tocando a toda hora
As situações de violência que estamos vendo resultam de uma comunicação verbal paupérrima, falida, que começou na mesa, o momento neurálgico do intercambio familiar. Os adolescentes não sabem se expressar com palavras, então apelam aos golpes”, opina Eva Lúcia Branda, cerimonialista do Centro Delfina Mitre Espacio Cultural.

Ela se senta com toda a família numa mesa em que celulares e TV desligada são condições inegociáveis para uma vida familiar bem sucedida.

Em 2011, após 17 anos de estúdio, o Centro Nacional sobre Adições e Abuso de Drogas da Universidade de Columbia, EUA, concluiu que se pode evitar o risco da narco-dependência aumentando o número de vezes em que a família come unida.

O trabalho se titula “A importância das refeições familiares” e constata que os adolescentes que partilham menos de três refeições familiares por semana são duas vezes mais propensos ao álcool; duas vezes e meia à maconha e quatro vezes mais ao tabaco e/ou alguma droga pesada no futuro.

Isso em comparação com os jovens que almoçam ou jantam com os pais em pelo menos cinco ou sete ocasiões por semana.

Smartphones na mesa bloqueiam a sociabilidade.
Smartphones na mesa bloqueiam a sociabilidade.
Comer em família fortalece as relações entre pais e filhos afastando esses riscos de adições.

A Pediatric Academic Society Meeting, congresso internacional anual de sociedades pediátricas mundiais concluiu que as crianças que partilham a mesa com os pais são melhor sucedidas na carreira acadêmica além de exibirem bom equilíbrio emocional e serem menos propensos ao bullying.

A mesa é um ponto crucial nos negócios. “Se você não sabe se comportar, pegar os talheres, etc., a negociação perde seriedade”, explica a consultora em Protocolo Internacional e Imagem, Karina Vilella.

Paradoxalmente, no instituto dela, a maioria dos alunos são profissionais de entre 30 e 40 anos que procuram dar um salto qualitativo e querem aprender as boas regras na mesa”.

Vilella completa: “como é que a gente percebe que alguém é um bom pai? É quando o filho lhe pergunta enquanto comem ‘como te foi hoje?”.

Na mesa da família errada, todos estão submersos no celular e são insensíveis ao que aconteceu com o outro, conclui a diretora do Centro de Diplomacia Karina Vilella.


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