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Comer em família é indispensável sem invasão digital |
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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Num lar típico de advogados bem sucedidos em Buenos Aires os pais e os filhos não tomavam as refeições reunidos. Reinavam smartphones, tablets, laptops ou TV de plasma.
Os pretextos ou alegados eram muitos: horários de trabalho ou escola, atividades diversas intensas, etc. Até que a família pensou voltar a partilhar as refeições.
Não foi fácil pois os filhos nem sabiam dialogar e cada um comia o que pediu ao delivery, explicou “La Nación”.
Então experimentaram ao vivo o que ouviram de muitos psicólogos especialistas em vida social: quando a mesa familiar não é partilhada como é natural, o desenvolvimento social crianças e adultos sofre um impacto negativo.
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Comer com as telas ligadas destrói a coesão da família |
É o que explica Denise Beckford, psicóloga especializada em crianças e adolescentes numa perspectiva social e familiar.
O convívio na mesa é tão insubstituível que numa situação normal não há nada que o possa suspender: nem chuva, nem eventos especiais.
É o momento em que cada um partilha o que experimentou, manifesta o que leva na alma e o conversa com os demais membros da família gerando uma unidade que vai até o mais fundo da alma.
Numa casa de família (os nomes não são mencionados para respeitar a privacidade) em que as refeições familiares são hábito adquirido os filhos exibem uma educação aprofundada.
“É o momento da comunicação, de falar de emoções e projetos, ensinar bons modais”, destaca a mãe que é advogada e precisamente diretora de um centro de assessoramento de imagem.
No relacionamento na mesa se decide o futuro da família e do sucesso social.
Que imagem passará um advogado, profissional ou juiz que na hora de um almoço de trabalho não sabe pegar no garfo?
O pai, especialista em direito impositivo, explica o valor de seus filhos verem uma mesa bem arrumada, bem servida, onde além de todos os elementos básicos (toalhas, guardanapos, conjuntos de pratos, copos e talheres), acrescentam flores naturais ou outro ornamento.
Quem se acostumou a uma mesa caótica não apresentará orçamentos ou relatórios ordenados.
“Quando a gente se olha e conversa aprende a ser chamado pelo nome, escutado, reconhecido por outro, desenvolve a imagem de si próprio e ganha estrutura psicológica para assumir desafios e se desenvolver na sociedade”, explica Leticia Arlenghi, especializada em terapia Gestalt nos EUA, Argentina e Chile.
“As situações de violência que estamos vendo resultam de uma comunicação verbal paupérrima, falida, que começou na mesa, o momento neurálgico do intercambio familiar. Os adolescentes não sabem se expressar com palavras, então apelam aos golpes”, opina Eva Lúcia Branda, cerimonialista do Centro Delfina Mitre Espacio Cultural.
O contato das almas não pode ser alterado pelo equipamento digital tocando a toda hora
Ela se senta com toda a família numa mesa em que celulares e TV desligada são condições inegociáveis para uma vida familiar bem sucedida.
Em 2011, após 17 anos de estúdio, o Centro Nacional sobre Adições e Abuso de Drogas da Universidade de Columbia, EUA, concluiu que se pode evitar o risco da narco-dependência aumentando o número de vezes em que a família come unida.
O trabalho se titula “A importância das refeições familiares” e constata que os adolescentes que partilham menos de três refeições familiares por semana são duas vezes mais propensos ao álcool; duas vezes e meia à maconha e quatro vezes mais ao tabaco e/ou alguma droga pesada no futuro.
Isso em comparação com os jovens que almoçam ou jantam com os pais em pelo menos cinco ou sete ocasiões por semana.
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Smartphones na mesa bloqueiam a sociabilidade. |
A Pediatric Academic Society Meeting, congresso internacional anual de sociedades pediátricas mundiais concluiu que as crianças que partilham a mesa com os pais são melhor sucedidas na carreira acadêmica além de exibirem bom equilíbrio emocional e serem menos propensos ao bullying.
A mesa é um ponto crucial nos negócios. “Se você não sabe se comportar, pegar os talheres, etc., a negociação perde seriedade”, explica a consultora em Protocolo Internacional e Imagem, Karina Vilella.
Paradoxalmente, no instituto dela, a maioria dos alunos são profissionais de entre 30 e 40 anos que procuram dar um salto qualitativo e querem aprender as boas regras na mesa”.
Vilella completa: “como é que a gente percebe que alguém é um bom pai? É quando o filho lhe pergunta enquanto comem ‘como te foi hoje?”.
Na mesa da família errada, todos estão submersos no celular e são insensíveis ao que aconteceu com o outro, conclui a diretora do Centro de Diplomacia Karina Vilella.
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