(Roma, 20 de Outubro de 2010)
Em Roma, o arcebispo Raymond L. Burke, presidente do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica (tribunal supremo da Santa Sé), e recentemente apontado para receber a púrpura cardinalícia por S. S. Bento XVI, concedeu entrevista a Thomas McKenna, fundador e presidente da associação Ação Católica pela Fé e Família, dos EUA. http://www.catholicaction.org/
O entrevistador interrogou ao arcebispo sobre as razões que o levaram a escrever uma carta pastoral ‒ quando dirigia a arquidiocese de St Louis ‒ sobre a maneira com que os católicos devem votar.
Há grave obrigação moral de votar, e pelos candidatos melhores
O prelado explicou que muitos católicos, embora professando bons princípios, na hora dar o voto acham que podem colocar as verdades da fé “entre parênteses e votar de acordo com outros critérios”.
‒ “Eu queria me certificar ‒ explicou o prelado ‒ que os fiéis se dessem conta de que têm uma obrigação moral muito grave de votar nos candidatos que defendam a verdade da lei moral, o que, naturalmente, também redunda no maior bem da sociedade”, explicou.
“Não podemos alegar, por exemplo, a respeito da existência em nossa sociedade da prática generalizada do aborto ou de uma permissão cada vez maior para os assim chamados casamentos entre pessoas do mesmo sexo, que ‘Nada temos a ver com isso.’ Temos sim, pois elegemos para cargos públicos pessoas que permitem essas coisas em nossa sociedade.”
“É minha real obrigação enquanto bispo de exortar os fiéis a cumprirem seu dever cívico de acordo com sua fé católica”.
Pode-se votar em alguém que defende o aborto como ‘direito’?. A resposta foi clara:
‒ “Não se pode jamais votar em alguém que favoreça absolutamente o ‘direito’ de uma mulher de destruir uma vida humana em seu seio ou de procurar um aborto.”
Porém, esclareceu com muito equilíbrio um ponto delicado:
‒ “Em algumas circunstâncias em que não exista nenhum candidato que se proponha a eliminar todo e qualquer aborto, pode-se escolher o candidato que mais limite esse grave mal em nosso país; mas jamais seria justificável votar num candidato que não só não quer limitar o aborto mas entende que ele deva estar ao alcance de todos.
Bispos brasileiros não podem dormir sem antes denunciar o aborto
O entrevistador, Thomas McKenna, lembrou que esse é um problema também do Brasil e perguntou-lhe que mensagem enviaria aos bispos brasileiros engajados na luta contra o aborto.
O chefe do Supremo Tribunal de Justiça vaticano disse:
‒ “Eu os elogiaria por exercerem seu ministério como mestres da fé a respeito de um assunto fundamental. Como poderia um bispo dormir a noite se não ensinasse nem alertasse seus fiéis contra um mal tão grave quanto o aborto, que ameaça acometer a sua nação? Então, esses bispos devem ser parabenizados, pois o que estão fazendo é simplesmente exercer sua função de mestres da fé e da moral, num assunto como disse fundamental e essencial: a proteção da vida de inocentes e indefesos seres humanos.”
Thomas lembrou que há católicos que dizem: ‘socialmente, ou por outras razões, quero votar no outro lado a despeito do que a Igreja diga’.
Mons. Burke respondeu:
‒ “Eu simplesmente lhes perguntaria: ‘Vocês seguem a Regra de Ouro que nos foi ensinada pelo próprio Nosso Senhor nos Evangelhos? Em outras palavras, ‘façam aos outros aquilo que gostariam que lhes fizessem?’
“Vocês acham realmente justo negar o direito à vida de outros membros da sociedade, especialmente os que dependem totalmente de nós para viver, a fim de obter alguma vantagem, ainda que legítima, seja ela ambiental ou outra? (...) ou seja, fazer o mesmo que quereríamos que nos fizessem quando nos encontrávamos, pequeninos, no ventre de nossa mãe, em fase embrionária de desenvolvimento ou a caminho do nascimento; como gostaríamos então que os eleitores votassem para proteger e salvaguardar nossas vidas”.
“Casamento” homossexual e a sã e legítima discriminação
Diz-se também que o “casamento” homossexual é uma questão de não-discriminação, e isso impressionou a alguns católicos tíbios, observou McKenna. Qual seria a resposta da Igreja a isso?
D. Burke respondeu:
‒ “Há discriminação injusta, por exemplo, quando se diz que um ser humano, por causa da cor de sua pele, não é parte da mesma raça humana Mas há uma discriminação que é perfeitamente justa e boa, ou seja, a discriminação entre o que é certo e o que é errado. Entre aquilo que está de acordo com nossa natureza humana e que é contrário à nossa natureza humana.
“Assim, ao ensinar que atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo são intrinsecamente maus e contra a natureza, a Igreja Católica está simplesmente anunciando a verdade, ajudando as pessoas a discriminarem o certo do errado em suas próprias atividades. (...)
“Portanto, não é de modo algum discriminação injusta simplesmente dizer ‘não’”.
Gravidade do escândalo dos políticos abortistas
Thomas apontou que personalidades públicas votam a favor do aborto ou são contrárias aos ensinamentos da Igreja, porém continuam a comungar e ir à igreja e a se apresentarem como católicos. E perguntou: “O senhor poderia dizer algo sobre o que é exatamente esse escândalo, qual sua gravidade?”
“É muito grave, ‒ explicou Mons. Burke ‒ isso lhe digo. Porque muitas pessoas, católicos e não-católicos, passaram a crer que o ensino da Igreja Católica sobre a gravidade do aborto não deve ser muito firme ou até mesmo que está prestes a ser alterado de um modo ou doutro. (...)
“O que é, pois, dar escândalo? Dar escândalo é fazer ou deixar de fazer algo que leve outros a ficarem confusos ou caírem em erro sobre o bem moral.
“Aqui está um perfeito exemplo de escândalo: católicos que traem a fé católica na vida política, como legisladores, juízes ou o que for, levando outras pessoas a acreditar que o aborto não deve ser o grande mal que realmente é, ou que de fato o aborto é uma coisa boa em certas circunstâncias.”
A caridade exige denunciar o escândalo
Porém, hoje se tende a menosprezar a pessoa que se manifesta escandalizada diante de atentados clamorosos contra os costumes e contra a Fé. O arcebispo abordou esse falso dilema moral:
‒ “Hoje tornou-se mais importante do que nunca considerar a realidade do escândalo porque há uma tendência a dizer: ‘O problema está em você. Esta é uma boa pessoa, está fazendo aquilo que acha certo’ e assim por diante, sem ligar para o que é verdadeiro e o que não o é. ‘Você é que cria problema para nós quando o critica’.
“Ora, isso não é verdade de modo algum. Quando manifestamos que algo nos causou escândalo, aconselhamos a pessoa que causou o escândalo a corrigir-se e reparar o mal que fez. Não se trata de acusar a outrem falsamente. Não se trata de introduzir discórdia ou desunião na comunidade. Trata-se na realidade de buscar os fundamentos da verdadeira unidade. Em outras palavras, a unidade na promoção do bem comum”.
Políticos e militantes abortistas devem fazer penitência pública
Mas, interrogou ainda McKenna, se um homem público católico dá escândalo, que tipo de reparação deve fazer para compensar o mal causado?
‒ “Em primeiro lugar, explicou D. Burke, deve haver uma genuína reforma do coração. Isso se faz através do sacramento da Penitência, por meio da satisfação ou penitência atribuída no sacramento.
“Mas é preciso reconhecer que, tratando-se de uma figura pública que tenha promovido algo muito mau de maneira pública, ela deve renunciar também publicamente ao erro que cometeu e ao qual estava levando outras pessoas.
“Então, para mim, a única coisa adequada é que essa figura pública diga: ‘Eu estava errado e agora entendo a verdade sobre a vida humana. E lamento profundamente o que fiz.’
“Por exemplo, no campo da medicina, alguém como Bernard Nathanson, que foi grande promotor do aborto provocado e depois se emendou, reconheceu o erro e passou a escrever livros e dar palestras para tentar reparar as muitas e muitas vidas para cujo assassinato serviu de instrumento.
“Você se pergunta: ‘Como pode alguém ser perdoado por cometer aborto?’ Mas Deus nos perdoa. Sua misericórdia é incomensurável, e em seguida nos leva a fazer a reparação que nós humanamente precisamos fazer para reparar o mal praticado e atrair as pessoas para o bem.
Rezemos a Nossa Senhora e obteremos a graça
Como conclusão o futuro Cardeal recomendou:
‒ “Desejo convidar todos a invocar de modo particular a intercessão de Nossa Senhora de Guadalupe. Ela foi-nos dada como Mãe da América. Ela é nossa Mãe. Ela é a Mãe de Jesus Nosso Senhor, mas nossa Mãe de modo muito particular.
“Apareceu em nosso continente em 1531 e mostrou-se protetora de toda vida humana. Rezemos muito especialmente sob sua intercessão, unindo nossos corações ao seu Coração Imaculado, para pedir o fim do aborto e de todos os ataques à família, especialmente a promoção de uniões do mesmo sexo.
“Estejamos confiantes de que Nosso Senhor vai ouvir nossa oração. Pelos nossos débeis esforços e orações, obteremos para os nossos irmãos e irmãs o dom do amor e da misericórdia de Deus.”
Video: Bispos não podem dormir sem alertar contra o aborto
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