segunda-feira, 22 de julho de 2024

Japão de passado militar fica sem jovens e sem soldados

Navio de guerra japonés supermoderno acabou parado porque não há jovens na Marinha para tripulá-lo
Navio de guerra japonês supermoderno acabou parado
porque não há jovens na Marinha para tripulá-lo
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Como o controle da natalidade e o pacifismo podem desfazer um povo? O Japão está dando um exemplo horroroso disso. Ele é um povo que, para bem ou para mal, mostrou ser guerreiro e militarista.

Em 2021 botou no mar a moderna fragata Noshiro, orgulho da Marinha japonesa equipada com mísseis antinavio e sonares de rastreamento submarino.

Seu planejamento não imaginou que o país não teria suficientes marinheiros para fazer navegar essa joia da tecnologia naval militar, segundo explicou o “The New York Times”.

A fragata foi planejada para combater com cerca de dois terços da tripulação que era necessária para o modelo que a antecedeu.

Então, mas hoje ela tem uma dotação inferior ao nível minimalista prevista, e vai ao mar até com menos marinheiros do que precisa.

Tarefas anteriormente efetivadas por sete ou oito marinheiros ficaram para três ou quatro.

O enfermeiro do navio lava a louça e a cozinha. E foram montados dispositivos de combate a incêndios para compensar a falta de tripulantes a bordo em caso de incêndios no mar.

“Para ser honesto, uma pessoa está realizando duas ou três tarefas diferentes”, explicou o capitão Yoshihiro Iwata, no porto de Sasebo, no sudoeste do Japão.

A cidade de Ichinono encheu locais públicos com manequins para fingir que tem crianças
O caso da Noshiro reflete a grave depressão demográfica do Japão. Nunca o país esteve tão ameaçado com ações navais tão provocativas pela China e pelo crescente arsenal nuclear da Coreia do Norte.

Porém, o Ocidente precisa que o Japão seja uma garantia confiável para conter o expansionismo da China.

O Japão tem o terceiro maior orçamento de defesa no mundo.

Mas a população encolhe, perto de um terço dos japoneses tem mais de 65 anos, e no ano passado os nascimentos caíram ao menor nível já registrado.

As Forças Armadas temem não serem capazes de reunir contingente para operar frotas e preencher os postos nos esquadrões do Exército.

O Exército, a Marinha e a Força Aérea do Japão há anos que não atingem as metas de recrutamento, e o número de militares na ativa — cerca de 247 mil — é quase 10% mais baixo que em 1990.

O Japão aumentou seu orçamento de defesa e os investimentos em equipamentos militares, além de acelerar os exercícios militares com os EUA.

O Japão precisa de novos batalhões habilidosos em tecnologia para operar equipamentos sofisticados, guiar drones ou proteger o país de ciberataques.

Acresce que no império do sol nascente, o pacifismo pregado a todos os níveis, desarmou psicologicamente à população. Essa acabou se opondo à aquisição de mísseis.

Mas, agora, está se vendo que a China é uma ameaça muito real, e isso reanima o militarismo.

Controle da natalidade gerou crise demográfica que afeta até as Forças Armadas
Controle da natalidade gerou crise demográfica que afeta até as Forças Armadas
A nova tendência, contudo, não se traduz em um aumento no alistamento às Forças de Autodefesa do Japão, as Forças Armadas japonesas.

O general Yoshihide Yoshida, chefe do Estado Maior Conjunto do Japão, reconheceu que “estamos enfrentando enormes dificuldades no recrutamento” e propõe aumentar a proporção de mulheres até 2030.

As forças armadas tentam atrair mulheres e recrutas com mais idade, priorizando a na burocracia e assim permitir que os uniformados homens jovens possam ser transferidos a postos de combate.

Mas, não é só questão de número. A guerra moderna demanda capacidades de alto nível para operar armamentos e equipamentos de vigilância avançados.

Acontece que o Japão desmilitarizado ficou atrás de seus aliados em termos de proteção contra a guerra cibernética.

“Não existe nenhuma estrutura militar para defender os cidadãos japoneses contra ciberataques”, afirmou o cientista de computação Hideto Tomabechi, pesquisador da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh.

O governo quer expandir sua força militar cibernética para até 4 mil agentes, porém muitos japoneses acreditam que o poder informático militar possa invadir sua privacidade.

“Há muita preocupação sobre o governo ser capaz de vigiar todos os e-mails, dados e buscas na internet dos cidadãos privados”, afirmou o ex-ministro da Defesa Itsunori Onodera.

Japão precisa soldados e recorre a mulheres e idosos
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O general Yoshida deu a entender que seria preciso oferecer salários mais altos ou alojamentos melhores.

Recrutadores da Marinha, por exemplo, têm dificuldades em atrair candidatos. Os marinheiros americanos, em contraste, conseguem acessar suas redes sociais e em certas ocasiões até receber encomendas da Amazon a bordo.

Algumas táticas de recrutamento fracassaram, como foi o thriller The Silent Service, ambientado em um submarino nuclear, que procurava atrair candidatos com essa peças publicitária.

Esse leque de fatores põe em dúvida que o Japão possa barrar eficazmente a agressão chinesa comunista que vai se adensando no horizonte.


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