Militantes pela vida enfrentam partidários do aborto diante da Suprema Corte antes do anúncio |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A Suprema Corte dos Estados Unidos revogou a delcaração Roe vs Wade que há 50 anos legalizou o aborto, noticiou “The New York Times”, como aliás toda a imprensa internacional espavorida.
Todas as leis ou normas a todo nível que se apoiavam na delcaração Roe vs Wade ficaram sem fundamento na legislação.
O vazamento jogou fogo no crescente conflito cultural e moral que devora o país e pode pô-lo ao borde de um incêndio nacional com incalculáveis repercussões mundiais.
A decisão Roe vs Wade instituiu a massacre dos inocentes no maior e mais liberal país do mundo. E foi perverso pretexto ou inspiração para leis de aborto no mundo todo.
Invalidada aquela decisão, a disputa pelo aborto ficará com os legislativos estaduais, onde a oposição é intrincada e até furiosa há anos.
Assim sendo, a maioria das leis de aborto parece felizmente destinada à ilegalização em pelo menos metade dos estados americanos.
De fato, em numerosos estados as formalidades legais aprovadas tornaram impraticável o crime de aborto sendo frequente a desaparição das clínicas da morte.
Prevaleceu a maioria conservadora de 6-3 na Corte, mas a vida política nacional e estadual virará campo para uma das questões mais controversas da vida pública americana.
Em breve, há um risco é de aprofundar a divisão do país já polarizada em dois blocos mutuamente hostis, em que um lado despreza o valor insondável da vida e o outro o defende.
Abortistas e anti-abortistas em disputa diante da Suprema Corte |
De início, rapidamente o presidente abortista Joe Biden anunciou um
projeto de lei e pediu votos para a eleição de meio termo para obter
deputados e senadores que o aprovem. Algo muito discutível pois os
legisladores preferem conservar sua cadeira e o aborto é um tema pelo
qual podem perde-lha.
Como em outros países, os legisladores não querem perder suas cadeiras e despejam as grandes decisões sobre os juízes. O resultado é uma politicagem feroz nos tribunais. Agora não poderão.
Acresce que nas eleições, quando está em jogo uma causa moral, diminuem as abstenções e aumentam os votos conservadores. O gesto do Biden teve muita repercussão na mídia mas pode ter sido tolo.
A Suprema Corte exibia um rosto ativista libertário quando esgrimiu tortos sofismas para aprovar o aborto em 1973. Porém, o rosto de hoje é do oposto conservador.
Em boa medida a Corte não pode ir contra a opinião pública que está dividida em duas partes irredutíveis. O que fazer para as esquerdas?
Para “The Economist” procurar uma saída conciliadora ou exercer a moderação será tido como intolerável por alguma das partes em luta e o Tribunal poderá perder sua capacidade de resolver disputas pacificamente.
Abolindo como fizeram, o crime do aborto os juízes enfrentarão uma pressão política esquerdista crescente.
Todos os candidatos presidenciais democratas, em geral favoráveis ao aborto, serão interpelados para pressionar a Suprema Corte. Pressão oposta virá do lado republicano contrário e o Tribunal que deve garantir o equilíbrio constitucional terá seu futuro hipotecado a uma tempestade ideológica.
Caindo a resolução Roe vs Wade as divisões dos EUA em estados conservadores e democratas se aprofundarão porque o sistema federal dá liberdade para cada um redigir suas próprias leis.
Leis estaduais em extremo divergentes poderão opor a Califórnia ao Texas por exemplo e as minorias nesses estados se sentiriam atropeladas.
Estados vizinhos divergentes em pontos hipersensíveis dificilmente poderiam coexistir e se unir num esforço nacional quando as circunstâncias o requererem.
E a coluna material que sustenta o mundo ocidental poderia se rachar em inúmeras partes pondo em dúvida a coesão do futuro do mundo atual.
Isso é o custo de uma decisão imoral que levou a vida de milhões de crianças em gestação.
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